quinta-feira, 16 de março de 2023

De Repente...


De repente... 
                                                                       Simone Leite


De repente te reconheço depois de muito tempo.

Tanto tempo desde que nossos olhos se encontraram.

Você não foi meu primeiro namorado, mas foi meu único amor.

Aquele amor de alma que jamais consegui esquecer...

Tínhamos 19 anos, muito jovens.

E parece que o tempo ficou ali, numa espera guardada no fundo do coração!

Eu queria te falar mais uma vez, enquanto ainda lembro dos nossos corpos dourados do sol da nossa cidade, dos pêlos descoloridos do meu corpo.

Dos nossos lábios não conseguindo ficar desgrudados um minuto...

Do olhar cúmplice...

Dos bilhetes grampeados e cheios de segredos do nosso amor e que me foram roubados...

Da primeira vez que ouvi sua voz no telefone...

Da primeira vez que nos vimos depois deste telefonema...

Foi eletrizante e ainda é quando te vejo!

Quanto tempo desde que juramos nunca nos esquecermos.

Eu fiquei caminhando na minha estrada, enquanto você caminhava paralelamente na sua.

Muitas vezes parei só para ver você passar.

O seu jeito de caminhar ficou marcado, enquanto eu via você sorrir maliciosamente  com o canto da boca.

Muitos anos se passaram e você me levou a “extremos”...

Teu olhar, teu jeito de me segurar, a tua voz silenciada com nossos beijos, num silêncio apaixonado!

Algumas noite insones, outras turbulentas, num sonho selvagem e real.

No seu corpo nu eu encosto minha cabeça no teu peito largo e fico sentindo sua respiração, sua vida pulsando em mim.

Como um ninho eu quero descansar e com teus braços me envolva e me proteja com o teu amor.

É tanto amor e estou presa nele, ainda esperando o telefone tocar.

Aguardo ansiosamente aquele bilhete grampeado com amor que o mensageiro me entregava.

Minha alma anda inquieta para encontrar-te.

O meu silêncio é tão grande que ouço o eco da batida solitária do meu coração.

Não quero me perder e sentir a solidão do meu próprio “eu”.

Talvez o silêncio que falo nestas palavras é o silêncio do amor que sinto por você secretamente...

Mas quando o dia termina, fecho meus olhos e deixo você se aproximar.

E você vem apaixonado nos meus sonhos.

Toco teus lábios mansamente e sem pressa sinto que sou invadida com sua alma e espírito.

Rendo-me a este amor.

Sem covardia, sem amarras, sem feitiços!

Estamos livres e eu posso te desejar, falar que te quero...

Quem sabe eu consiga tocar a tua alma e assim acalentar a minha, pois só eu sei o grande amor que vivi.

E a saudade insuportável desta distância que é não te ter por perto.

Você pode achar que estamos velhos...

Sinceridade, acharia isso? Me sintoma menina!

E Deus sabe o que nos foi negado. Por isso eu sempre falo deste amor.

Peço a Deus que eu consiga resistir à sua ausência, antes do silêncio que nos aguarda...

E digo: Minha vida foi te amar!

Deixará novamente eu ir embora?

E olha, eu estou aqui neste instante, arrancando do coração estas palavras, sem medo de expô-las .

Me visto de coragem e nua de corpo e alma grampeio este “bilhete” que o mensageiro já está esperando para te entregar.

Apresso-me pois não há muito tempo, ele também já está envelhecido e caminha devagar para entregar mais um pedacinho do meu amor...

Quem sabe ele me traz a resposta grampeada.

Assim olho novamente as palavras indo de encontro a você e permaneço apaixonada... e com a caneta na mão começo escrever a primeira letra...A

Mas adormeço rapidamente na esperança de encontrar-te!